A partir de maio de 2026, entra em vigor oficialmente no Brasil uma mudança que promete transformar a forma como as empresas lidam com a saúde mental dos trabalhadores. A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) torna obrigatória a identificação e o gerenciamento dos riscos psicossociais nos ambientes corporativos. Na prática, situações como assédio moral, metas abusivas, sobrecarga e estresse passam a ser encaradas como falhas de gestão e de compliance, sujeitas a sanções legais.

A nova diretriz determina que todos esses riscos devem ser integrados ao Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), documento que já orienta as ações preventivas nas empresas. Para atender à exigência, os empregadores precisarão contar com apoio de profissionais especializados em saúde e segurança do trabalho, além de implementar ações concretas para proteger o bem-estar emocional dos colaboradores.

Segundo o advogado Hugo Ribeiro, especialista em Direito do Trabalho, a nova norma representa um avanço importante.

“A NR-1 passou por um período de transição. Inicialmente prevista para 2025, sua vigência foi adiada para maio de 2026. Isso dá tempo para que as empresas se adaptem. O objetivo é prevenir o adoecimento mental e reduzir os impactos que recaem, inclusive, sobre a Previdência Social”, explica.

E os dados são alarmantes. Em 2024, o Brasil registrou mais de 472 mil afastamentos do trabalho por transtornos mentais — o maior número da última década. Só no último ano, os problemas de saúde mental foram responsáveis por 38% das licenças emitidas pelo INSS. De acordo com o Ministério da Previdência, o custo dos afastamentos já ultrapassa R$ 12 bilhões.

Diagnóstico psicossocial: mapa de riscos emocionais

Para se adequarem à nova norma, muitas empresas estão recorrendo a diagnósticos especializados. A psicóloga Gleyce Albuquerque, que atua na área de saúde ocupacional, explica como funciona o protocolo.

“A avaliação psicossocial é feita de forma anônima e permite identificar os fatores que afetam emocionalmente o trabalhador. Os resultados são classificados em quatro níveis: verde, amarelo, vermelho e preto. Isso ajuda a empresa a saber onde e como agir.”

Ela destaca que as causas mais recorrentes do adoecimento são ambientes autoritários, metas desumanas, assédio e falta de diálogo.

“É essencial criar canais de escuta e denúncia. Evitar o adoecimento é mais eficaz — e menos custoso — do que tentar remediar os danos depois que eles já se instalaram.”

Prevenção que protege vidas e fortalece negócios

Na prática, a norma cria oportunidades para que empresas atuem preventivamente. Marta Santos é engenheira de segurança do trabalho e empresária no setor de saúde ocupacional. Em sua empresa, já vem orientando os clientes sobre os impactos da nova legislação.

“A função do empregador é observar, acolher e corrigir o que pode causar dano. Metas abusivas, por exemplo, são uma porta para o adoecimento. A gente precisa cuidar das pessoas antes de pensar em números.”

Como empresária, Marta também vê a norma como positiva para os negócios:

“Essa mudança legal vem para fortalecer as boas práticas. Cuidar da saúde mental dos trabalhadores é uma forma de garantir produtividade, reduzir afastamentos e construir ambientes mais saudáveis e sustentáveis.”

A biomédica Karina Santos reforça que a mudança traz ganhos em todas as frentes:

“É uma normativa extremamente positiva. Há muito tempo vemos os impactos do sofrimento mental no trabalho. Agora, as empresas têm um caminho mais claro para prevenir.”

A partir de 2026, o cuidado com a saúde mental deixará de ser uma escolha de gestão e passará a ser um dever legal. Para os trabalhadores, é uma proteção a mais. Para as empresas, é hora de agir — ou arcar com as consequências.